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Entrevista
Guile Joe Scarantino 20 Anos Na Luta
Por: Thico Soares e Leyli Souto
O Boobarellas é uma banda de punk rock curitibana que neste ano de 2015 completa 20 anos. Mesmo já tendo passado por várias mudanças na sua formação, a banda sempre teve à sua frente Guilherme Scarant, mais conhecido como Guile Joe, que é um grande sujeito, um cara muito solícito e honesto. Já que este ano promete ótimas realizações para o Boobarellas, o Pote de Geleia teve a satisfação de conversar com Guile, que nos contou sobre aspectos interessantes de sua trajetória e carreira.
Confira!
Pote de Geleia – Qual a sua mais remota lembrança sobre rock ‘n’ roll? A que tenho, por exemplo, foi quando minha mãe me deu uma fita K7 com hits dos anos 50 e 60, me recordo de ter escutado mil vezes Let’s Twist Again do Chubby Checker. Você consegue se recordar do seu primeiro contato com rock?
Guile: Primeiramente, muito obrigado por me enviar essa série de perguntas inteligentes, é muito bom responder a perguntas provindas de pessoas que conhecem a fundo o meu trabalho.
Bom, dando início e respondendo essa pergunta, eu cresci no meio de uma família musical, tive um pai que foi guitarrista de uma banda local na adolescência dele, e uma prima que é locutora de rádio até hoje em dia, fui infiltrado muito cedo nesse meio, desde criança fui acostumado com música em casa e com os familiares.
Tenho um primo (irmão dessa minha prima locutora) que me apresentou o KISS e os Ramones em 1983, quando eu tinha 5 anos, me deixou fascinado por músicas como “Rock and Roll All Nite” e “Do You Remember Rock’n’Roll Radio”, eu cantava essas músicas repetitivamente e diariamente, e sem conhecer uma palavra de inglês naquela idade, porque era muito contagiante. Eu estudava em escola católica, e me lembro de um dia em que a professora pediu para os alunos levarem algum disco (na época vinil) com músicas que gostassem para fazer uma atividade em classe. Me lembro ter escutado músicas como “Balão Mágico”, “Galinha Amarelinha”, “Fui ao Tororó” e quando chegou a minha vez, a música escolhida foi “Shout it Out Loud”, eu tinha levado o disco ALIVE II do KISS, em seguida telefonaram para minha mãe comparecer na escola. (risos)
Pote de Geleia – Uma pergunta que será recorrente em todas entrevistas por aqui. Liste em ordem cronológica todas as bandas que você fez parte, gravando disco ou não. Busque até as informações mais obscuras (Risos).
Guile: Healix, Deskareggae, Recruta Zero, Tem Cent Barbie, Boobarellas, Caphofo, Hulk, Numtemcaô, Soma, Electra, The Fresh New Dolls, Kiss my Ass, They Face Reaction.
Pote de Geleia – Agora em 2015 o Boobarellas completa 20 anos de banda. Depois de duas décadas, qual a sua avaliação desses anos todos mantendo essa banda viva?
Guile: Ótima pergunta. Veja bem, na minha visão e minha opinião sobre ter banda por 20 anos, eu sempre fui “true” com isso e com tudo o que me proponho a fazer. Foi uma opção de vida pra mim, eu continuo querendo isso até hoje sabe? Não foi apenas uma fase passageira na minha adolescência.
Esses dias comentei com minha garota quando cheguei em casa depois do show do KISS, que gostaria de chegar nos meus 60 anos fazendo show com os Boobarellas, e isso não está relacionado a querer ser famoso ou achar que vou ficar rico com a minha música, e sim porque seria muito divertido e importante olhar pra trás e ter feito isso durante quase toda minha vida, uma atividade que além de me dar muito prazer, me faz muito bem, fisicamente e mentalmente.
Hoje estou com 35 anos, logo que entrei na faculdade, aos 18, eu já fazia shows locais com o Boo, foi quando eu comecei a ter noção que para manter a banda e estudo juntos, eu ia precisar conciliar as duas, pois seria uma coisa a mais na minha vida, onde além de dar prioridade, me dedicar, e ter tempo, teria que ter uma grana extra pra poder comprar meus equipamentos e pagar ensaios e tal. Então sempre tive essa consciência e sempre abri mão de gastar dinheiro com baladas, bebidas e futilidades. Tem essa prioridade, assim como os raros cachês que ganhamos, eu sempre guardei para um possível caixa pra banda, por menor que fosse ele. Quando comecei a trabalhar em período integral depois da faculdade, foi mais uma coisa que tive que conciliar.
Então nunca perdi o foco na minha banda nesses 20 anos da minha vida graças ao bom Jah (risos). Outro ponto que avalio nas minhas duas décadas de banda é a questão de tocar com amigos que não levam a banda a sério. O que eu aprendi foi que se você tem um grande amigo, e ele quer tocar em uma banda com você, mantenha o amigo, pois futuramente cobranças podem interferir na amizade, mas se você tiver um parceiro do rock que seja disciplinado, desenvolva uma relação séria e de respeito com ele, e comece da forma certa desde o início. Agora, se você for como eu, que tem seu melhor amigo na banda, e o mesmo é o melhor parceiro musical que você já teve, posso te dizer que você é um sortudo filho da mãe (risos).
The Fresh New Dolls (Guile, Carol e Gabriela/Foto por: Diego Cagnato)
Pote de Geleia – Eu sei que você já tocou baixo e bateria também. Mas qual o seu instrumento de origem?
Guile: Eu comecei tocar baixo quando eu tinha 12 anos. Depois lá pelos 15 fui me interessando um pouquinho por bateria e teclado pra me ajudar nas composições que eu estava iniciando. Com uns 20 anos, quando eu já tinha uns cinco anos de estrada com os Boobarellas, eu comecei a tocar guitarra, porque o guitarrista da época tinha saído da banda e eu não tinha nenhum guitarrista substituto de imediato disponível, eu só tinha um amigo baixista. Foi então que resolvi me dedicar a tentar ser um guitarrista. Continuo na guitarra até hoje.
Pote de Geleia – Em uma série de grupos que participo sempre temos discussões intermináveis sobre diversos assuntos. Alguns dos assuntos que sempre estão em pauta são: o apoio às bandas autorais, integrantes de banda prepotentes e pouco tratáveis, muitas vezes nada tratáveis (risos), produtores picaretas que não têm base alguma em nenhum aspecto pra realizar o básico da estrutura para o público e para os artistas contratados, valores exorbitantes de instrumentos de qualidade, valores inacessíveis para uma gravação realmente de qualidade, produções que deixem sua música com potencial de mercado... Enfim...
Na sua experiência, você que já passou por tantas coisas, enrascadas, gravou vários discos, viu várias mudanças no circuito, o que você indica para as pessoas que buscam realizar um trabalho de qualidade e honesto, driblando essas questões tão conhecidas?
Guile: Eu diria que buscar identidade própria no seu trabalho é primordial, para você ter a possibilidade de se destacar no meio dessa infinidade de músicas genéricas que existem atualmente. Acho que saber trabalhar com as plataformas de mídia e redes sociais é essencial também, pois é essa a ferramenta que temos nas mãos hoje em dia, quando eu comecei era tudo na base da fita K-7 e release por carta. A minha opinião é que reciclagem ao longo dos anos é essencial, não só na música, e sim em qualquer área.
Boobarellas no álbum Glam Punkers
Pote de Geleia - O Boobarellas faz uma mistura interessante. Punk, glam rock, referências de 50’s, de country music e outros elementos. Como vocês contextualizam essa mistura que além de musical é estética também?
Guile: Isso é reflexo de tudo o que nós três gostamos, a gente escuta vários estilos de música, mas o que gostamos mesmo de tocar é Punk Rock. Então às vezes uma ou outra influência acaba ficando mais evidente, tanto na sonoridade, como na imagem da banda. Para nós o mais importante é que sempre tentamos mostrar a nossa personalidade, a nossa identidade, tanto nos discos como nos shows.
Por isso dificilmente tocamos covers em shows, ou vestimos camisetas das bandas de nossos ídolos, para não termos nenhum tipo de associação direta com outras bandas, ou ficarmos presos a um rótulo musical. Outro detalhe é que nós desde o início da banda em 1995, sempre cantamos em português, porque temos orgulho da nossa língua, e porque sempre quisemos “parecer” uma banda brasileira.
Pote de Geleia – Por volta de 2011, pouco tempo depois de lançado o disco Glam Punkers do Boobarellas, você deu início ao seu trabalho solo, o SCARANTINO. Eu sei que você contou com um excelente produtor e músicos incríveis para as gravações desse trabalho. Como você desenvolveu essa ideia e como se deu o processo para que você lançasse esse ep solo?
Guile: Eu iniciei meu projeto solo por um motivo basicamente, e foi um tempo depois de eu me mudar para São Paulo, quando segui com a formação com integrantes paulistas. Foi ali o erro, percebi que o Boobarellas estava deixando de ser uma banda de Curitiba, vi outras bandas de Curitiba que se mudaram para SP fazendo isso e fiz o mesmo, mas em um curto prazo vi que isso não se aplicava para o Boobarellas, pois sem o Guaco (baixista) na banda senti que faltava aquela “mágica” que sempre teve. Então achei melhor iniciar outra história, com outro nome, algo que eu pudesse descolar dos Boobarellas, no som e na imagem.
Foi um processo bem espontâneo, pois não tinha nada planejado, nem regras a seguir. Foi tomando proporção com o tempo, pois de início era para ser apenas um projeto virtual. Comecei com um canal no Youtube, postando vídeos das JAMS que eu fazia com amigos ou bandas dos conhecidos, em seguida eu quis compor algumas músicas para tocar nessas JAMS, e quando me dei conta eu já estava em estúdio gravando meu EP solo, com um produtor fantástico, músicos incríveis convidados, e com um site no ar para disponibilizar todo esse material que eu vinha produzindo.
Pote de Geleia – Vocês têm planos para um lançamento este ano com o Boobarellas? Talvez algum material comemorativo...
Guile: Em dezembro o Boobarellas completa 20 anos, e temos muitos planos, mas nos últimos anos de banda, nós trocamos duas vezes de baterista, isso atrasou o cronograma da banda, e certas coisas foram deixadas de serem feitas por isso. Nesse ano, já demos início a uma série de shows locais, chamado “Booba Mania” onde estamos tentando tocar as mais variadas músicas nos shows, de todos os discos, até as que nunca tocamos ao vivo antes, e queremos fazer desses shows uma turnê, levando para outras cidades até o ano que vem. Em virtude disso, nós vamos selecionar as músicas que mais agradaram nos shows, e faremos o álbum “Booba Mania”, com as dez melhores, todas regravadas, com a formação atual no formato 2015, onde o Guaco que é o baixista e meu parceiro há 10 anos já, estará assumindo uns 40% dos vocais nas faixas do disco, e o Cris, nosso novo baterista que acabou de entrar, mas, já fará esse registro para a história da banda. Temos a segunda edição do nosso próprio festival “Boobs’N’Booze” que acontece em comemoração ao Dia Mundial do Rock anualmente. Esse que é também mais um motivo de comemoração!!!
Boobarellas no Boobs’N’Booze 2014 (Foto por Tai Bastos)





19
julho
Boobs’N’Booze Fest
Edição 2015
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